sexta-feira, 27 de julho de 2012

Política e popularidade

Estava costumeiramente preguiçoso na poltrona frente à televisão, mergulhando a canoa de pão francês na média de café com leite, quando o interfone tocou. Tão cedo, interfone que toca não é boa coisa. “Quem é?”. Assim mesmo, sem muito zelo. “Tenho uma encomenda para o segundo andar, você pode receber?
Fui ao banheiro, joguei uma água fria no rosto para retirar os entulhos, e equilibrei o pão sobre a caneca de café, imaginando tratar-se de procedimento rápido. Abri o portão, e lá estava um homem baixo, vestindo calça de linho preto e camisa listrada. Nos pés um sapato de bico fino. O cabelo, em forma de cogumelo encaracolado, brilhava com a incidência do sol. Nas mãos, o barrigudinho trazia um molho de chaves, e uma resma de papel grampeado.
Ele me encarou, enrugando a testa um pouco assustado. O modo como eu o encarei ao abrir o portão, talvez fosse a causa: - Oi, bom dia cidadão, meu nome é Fulano de Talzinho, eu sou candidato a vereador aqui do bairro, eu queria conversar com você sobre seu apoio.
- O senhor é dos Correios? - Não, sou não.
– e riu depois. - Bom, o senhor bateu o interfone dizendo que tinha uma encomenda para mim. – eu não ri. - Não... Sabe o que é? Eu queria conversar com alguém do prédio, para pedir apoio na campanha, mostrar minhas intenções. Está aqui a encomenda que eu tava falando, aqui estão minhas propostas, meu número, meu partido, tudinho. – disse mostrando a resma de papel digitado. - Bom, então o senhor me atrai até o portão, às 9h da manhã, mentindo, para me convencer a lhe dar o meu apoio, é isso? - Não, amigo, me desculpe, você tem razão. Mas você pode perguntar a quem quer que seja aqui nessa região, quem é Fulano de Talzinho. Qualquer um deles vai te dizer. Eu tenho muita loja por aqui; muito aluguel, todo mundo me conhece. Não precisa ficar cabreiro achando que é trote ou qualquer coisa não, viu? - Bom, seu Fulano de Talzinho, eu acho então que o senhor está na eleição errada, o senhor não acha? - Uai, como assim você diz? - Bom, o senhor deveria se candidatar ao Big Brother, ou qualquer outro desses programas. Esses sim são disputas de popularidade, não uma eleição municipal.
Ele riu fingindo ter entendido, agradeceu e eu fechei o portão. Mais tarde vi na caixa de correio os papéis da “encomenda” de Fulano. Não liguei para o fato de estar mal escrito, confuso e sem nexo, apesar de ter notado. O que me chamou atenção foi a frase final: por uma Santa Luzia com mais educação, saúde e segurança, e principalmente sustentável. Fulano de Talzinho está com as promessas atualizadas.