segunda-feira, 14 de março de 2016

Velho Chico: primeiras impressões


    Escrever uma novela é, sobretudo, administrar o silêncio. Não apenas o silêncio literal, mas a sugestão metafórica da elipse, no enredo, na imagem que se vê e a que se imagina, no jogo de esconde que faz a história acontecer nos seus detalhes, dentro da cabeça de quem assiste. Primeiro capítulo de Velho Chico, novela de Benedito Ruy Barbosa, da qual comentei aguardar com certa ansiedade pela sugestão das chamadas; e já me conquistou.
       Nada de diálogos agônicos de personagens consigo mesmo, tentando preencher explicativamente o enredo na mente da audiência. Nada de falas sem propósito, ou da linearidade chata de imagens contextuais. Tudo conciso, indicativo, sugestivo, sedutor. A história não está entregue, mas as iscas certas lançadas. Parece exagero dizer apenas com o primeiro capítulo, mas o fato é que diante de outras produções do mesmo gênero, isto é inédito e empolgante.
        A fotografia é um ponto alto. Lindíssima! O sertão amarelo, mas com tons vivos, turquesa, azul, vermelho, margeados por verdes salpicados. É seco e vivo. É desigual. É pobre e é rico. Tal como o Brasil dos coronéis. A contraluz dá a ideia de sofreguidão e nostalgia da casa do Coronel. A luz direta que irrita os olhos do personagem de Chico Diaz transmite a luta para sobreviver no semi-árido.
         A trilha é fundamental. Abre com Tropicália, música de Caetano, que nos conduz a história e enche de expectativa, escolha perfeita para representar a época. Chama atenção a trilha incidental que acompanha todas as cenas, sem exceção, no silêncio e nas falas, também uma novidade. De certa forma, me pareceu exagerada, o que não quer dizer que tenha sido mal feita, pelo contrário.  Como dois e dois merece parêntesis pela empatia com a personagem, e por nos lembrar que ninguém faz música como Caetano.
           Textos são como perfumes que reagem à pele, e só depois ganham vida. A pele, nesse caso, são os atores, que são quem de fato fazem tudo acontecer. Esse é um tópico que carece mais tempo para ser avaliado, mas de pronto, tudo pareceu se encaixar.

Espero não ser iludido. Acho que dessa vez acertaram.  

sábado, 12 de março de 2016

Sobre amizade: aos amigos com carinho

Durante boa parte da infância morei com minha avó, apreciadora de música, especialmente brasileira e popular. Era tradicional, especialmente aos domingos, ouvir Agepê e sua voz encorpada, e em seguida Gonzagão e seu baião, ao som do qual, inclusive, ela fazia questão de me dar aulas de forró. Os sons daqueles vinis preencheram minha ideia de música durante a tenra infância, período em que as fitas cassete foram engolidas pelos CDs, caros, e de difícil acesso. 
Lembro com frescor o primeiro fim de semana que passei na casa do meu além-amigo Loureiro. Ainda era infância, e entre as coisas novas que ele me apresentava em sua casa, fez questão que eu ouvisse a banda inglesa Led Zeppelin. Era tão diferente! No começo estranho, como se aquilo não se encaixasse no meu ouvido. Foi assentando aos poucos, até que ouvi Since I’ve been loving you, e as descobertas se multiplicaram. Era lindo! Forte, denso, melancólico, ainda que eu não entendesse mais do que o título da canção. As descobertas se sucederam (The Doors, The Who, Pink Floyd, entre outros) estendendo meus horizontes. Em dias que a alma grita: Led! Em dias que o coração lembra: Cartola! Tudo teve e tem uso em mim.
Conto essa história, porque a vejo como uma metáfora (pessoal) para o valor e a função da amizade. Duas almas que se cruzam e colaboram entre si, de tal maneira que não se possa falar de quem uma é sem mencionar a outra. Tornam-se causa e efeito, mutuamente, de personalidades que descrevem destinos sempre na direção do bem. 
É uma bênção! E deve ser louvado assim. Quem seria eu no mundo sem amigos? O que a vida teria feito de mim e o que eu devolveria a ela? A amizade é uma verdade transcendente, um bálsamo da alma, um pão da vida. 
 A todos os meus amigos, com orgulho de usar o plural, a gratidão sincera de quem vos ama. 

PS: aos dois - Semper Fidelis. Obrigado!