Escrever uma novela é, sobretudo, administrar o silêncio.
Não apenas o silêncio literal, mas a sugestão metafórica da elipse, no enredo,
na imagem que se vê e a que se imagina, no jogo de esconde que faz a história acontecer
nos seus detalhes, dentro da cabeça de quem assiste. Primeiro capítulo de Velho
Chico, novela de Benedito Ruy Barbosa, da qual comentei aguardar com certa
ansiedade pela sugestão das chamadas; e já me conquistou.
Nada de diálogos agônicos de personagens consigo mesmo,
tentando preencher explicativamente o enredo na mente da audiência. Nada de
falas sem propósito, ou da linearidade chata de imagens contextuais. Tudo
conciso, indicativo, sugestivo, sedutor. A história não está entregue, mas as
iscas certas lançadas. Parece exagero dizer apenas com o primeiro capítulo, mas
o fato é que diante de outras produções do mesmo gênero, isto é inédito e
empolgante.
A fotografia é um ponto alto. Lindíssima! O sertão amarelo,
mas com tons vivos, turquesa, azul, vermelho, margeados por verdes salpicados. É
seco e vivo. É desigual. É pobre e é rico. Tal como o Brasil dos coronéis. A
contraluz dá a ideia de sofreguidão e nostalgia da casa do Coronel. A luz
direta que irrita os olhos do personagem de Chico Diaz transmite a luta para
sobreviver no semi-árido.
A trilha é fundamental. Abre com Tropicália, música de
Caetano, que nos conduz a história e enche de expectativa, escolha perfeita
para representar a época. Chama atenção a trilha incidental que acompanha todas
as cenas, sem exceção, no silêncio e nas falas, também uma novidade. De certa
forma, me pareceu exagerada, o que não quer dizer que tenha sido mal feita,
pelo contrário. Como dois e dois merece parêntesis pela empatia com a personagem, e
por nos lembrar que ninguém faz música como Caetano.
Textos são como perfumes que reagem à pele, e só depois
ganham vida. A pele, nesse caso, são os atores, que são quem de fato fazem tudo
acontecer. Esse é um tópico que carece mais tempo para ser avaliado, mas de
pronto, tudo pareceu se encaixar.
Espero não ser iludido. Acho que dessa vez acertaram.