Hipermarco por Rodrigo Antunes e Chico Soares
Reportagem por Felipe Canedo, Pedro Castro e Romulo Medeiros
Aos 115 anos de vida e parte indiscutível da história de Belo Horizonte, a Sociedade Musical Carlos Gomes, vive hoje uma situação desconfortável. Há três décadas dedicando-se à banda, o maestro Francisco Belmiro Braga, anunciou recentemente sua aposentadoria. Não é por falta de amor à música e à sociedade que o militar reformado se afasta do tão respeitado posto. Um recente problema na visão o impede de continuar o serviço. "Precisamos urgentemente de um maestro para assumir a direção técnica da banda", afirma Belmiro Francisco.
O problema é que a banda não tem como pagar por um novo maestro já que, como entidade filantrópica, não possui os recursos financeiros necessários. O pouco dinheiro que entra nos cofres da Sociedade Musical vem de uma colaboração dos Alcoólicos Anônimos, entidade que usa parte do terreno da Sociedade Musical Carlos Gomes, para suas atividades assistenciais; de algumas apresentações encomendadas, onde se cobra o que for possível de ser pago, e da doação dos próprios músicos, que acaba sendo parcela fundamental para a manutenção da banda.
Atual presidente da instituição, Geraldo Manuel Pereira, reclama do descaso com o qual a banda é tratada. "Há dois meses fomos contratados para tocar em uma cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Pedimos uma colaboração e disseram não ter como nos pagar.Deixei claro que, apesar da dificuldade de levar tantos músicos para tocar na tarde de um fim de semana, queríamos o dinheiro apenas para custear a pintura de nossa sede. Ficou acertado que receberíamos pela apresentação a doação das tintas", afirma. O que pareceu ser um acordo perfeito teve um insólito fim. As tintas doadas eram de cores completamente distintas, além de estarem com datas de validade vencidas. "Os músicos novamente passaram o chapéu e terminaram, eles mesmos, pagando a conta da pintura", acrescenta.
Outro problema que a banda enfrenta é a dificuldade de conquistar músicos jovens para garantir a renovação de músicos essencial para se manter a tradição. Para o ex-maestro Francisco Belmiro Braga, o interesse dos jovens vem da cultura musical das famílias. "Você pode perguntar para todos os músicos da banda, quase todos vão dizer ter um dos pais, um tio ou o avô músico. É uma questão de origem", diz. Entre os integrantes da banda um consenso: os jovens de hoje em dia gostam das músicas eletrônicas, mas não gostam de tocar os clássicos ou se envolver com a tradição. "Não há o interesse da banda em sofisticar essa atividade, senão ela deixa de ser uma tradição", afirma Belmiro.O músico Rafael Calaça, que se diz apaixonado pela riqueza das bandas civis de Minas Gerais, considera que o desinteresse dos jovens vem do desconhecimento. "Há muitos exemplos de bandas bem-sucedidas em envolver a juventude em Minas Gerais, mas é preciso investir em projetos educativos para atraí-los", afirma.
Ele lamenta o fato de sua opção por um instrumento de corda lhe impedir de tocar em uma banda de rua. Geraldo Manuel lembra o período em que, amparados pela verba de uma lei de incentivo, deram aulas periódicas a mais de 40 jovens de uma comunidade carente. Durante um ano, a banda pôde transmitir sua tradição e educar novos músicos. A experiência fora um sucesso, mas, por falta de um profissional apto a escrever e captar projetos, a banda não conseguiu manter as aulas. Para o apaixonado pelo som do bombardino Alexandre Fernandez Moreira, a banda é mais do que um encontro com a música, é um espaço para descansar a cabeça. "É uma maneira de descontrair, uma terapia para quem trabalha, como no meu caso, na área financeira", afirma.
HISTÓRIA Alfredo Camarate, engenheiro português que participou do projeto de Aarão Reis para a criação de Belo Horizonte, era cronista de diversos jornais e era também músico. Em 1896, entre as ocupações de planejar a capital mineira e relatar seu ofício nos periódicos mineiros, Camarate fundou a Sociedade Musical Carlos Gomes. A história conta que o engenheiro, apaixonado por música, preferia contratar peões que tocavam algum instrumento para trabalhar nas obras da capital mineira. Da união de 15 músicos, sob a batuta de Camarate, nasceu a banda que tocava em festas e que tocou na inauguração da cidade.
115 anos depois, a Sociedade Musical Carlos Gomes segue pouco afinada com a capital que inaugurou, apesar da heroica dedicação de seus membros. Localizada hoje no bairro Calafate, próxima à Paróquia São José, a sede da banda é um casarão conhecido pelos moradores das redondezas por sua música característica.Camarate talvez não imaginasse que 115 anos se passariam sem que sua banda deixasse de servir ao povo para o qual foi criada, mas se surpreenderia com o descaso com o qual por ele é tratada. Provavelmente, não fosse graça aos músicos que hoje tanto se dedicam à Sociedade Musical Carlos Gomes, este importante pedaço da história de Belo Horizonte já teria se perdido.
Reportagem por Felipe Canedo, Pedro Castro e Romulo Medeiros
Aos 115 anos de vida e parte indiscutível da história de Belo Horizonte, a Sociedade Musical Carlos Gomes, vive hoje uma situação desconfortável. Há três décadas dedicando-se à banda, o maestro Francisco Belmiro Braga, anunciou recentemente sua aposentadoria. Não é por falta de amor à música e à sociedade que o militar reformado se afasta do tão respeitado posto. Um recente problema na visão o impede de continuar o serviço. "Precisamos urgentemente de um maestro para assumir a direção técnica da banda", afirma Belmiro Francisco.
O problema é que a banda não tem como pagar por um novo maestro já que, como entidade filantrópica, não possui os recursos financeiros necessários. O pouco dinheiro que entra nos cofres da Sociedade Musical vem de uma colaboração dos Alcoólicos Anônimos, entidade que usa parte do terreno da Sociedade Musical Carlos Gomes, para suas atividades assistenciais; de algumas apresentações encomendadas, onde se cobra o que for possível de ser pago, e da doação dos próprios músicos, que acaba sendo parcela fundamental para a manutenção da banda.
Atual presidente da instituição, Geraldo Manuel Pereira, reclama do descaso com o qual a banda é tratada. "Há dois meses fomos contratados para tocar em uma cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Pedimos uma colaboração e disseram não ter como nos pagar.Deixei claro que, apesar da dificuldade de levar tantos músicos para tocar na tarde de um fim de semana, queríamos o dinheiro apenas para custear a pintura de nossa sede. Ficou acertado que receberíamos pela apresentação a doação das tintas", afirma. O que pareceu ser um acordo perfeito teve um insólito fim. As tintas doadas eram de cores completamente distintas, além de estarem com datas de validade vencidas. "Os músicos novamente passaram o chapéu e terminaram, eles mesmos, pagando a conta da pintura", acrescenta.
Outro problema que a banda enfrenta é a dificuldade de conquistar músicos jovens para garantir a renovação de músicos essencial para se manter a tradição. Para o ex-maestro Francisco Belmiro Braga, o interesse dos jovens vem da cultura musical das famílias. "Você pode perguntar para todos os músicos da banda, quase todos vão dizer ter um dos pais, um tio ou o avô músico. É uma questão de origem", diz. Entre os integrantes da banda um consenso: os jovens de hoje em dia gostam das músicas eletrônicas, mas não gostam de tocar os clássicos ou se envolver com a tradição. "Não há o interesse da banda em sofisticar essa atividade, senão ela deixa de ser uma tradição", afirma Belmiro.O músico Rafael Calaça, que se diz apaixonado pela riqueza das bandas civis de Minas Gerais, considera que o desinteresse dos jovens vem do desconhecimento. "Há muitos exemplos de bandas bem-sucedidas em envolver a juventude em Minas Gerais, mas é preciso investir em projetos educativos para atraí-los", afirma.
Ele lamenta o fato de sua opção por um instrumento de corda lhe impedir de tocar em uma banda de rua. Geraldo Manuel lembra o período em que, amparados pela verba de uma lei de incentivo, deram aulas periódicas a mais de 40 jovens de uma comunidade carente. Durante um ano, a banda pôde transmitir sua tradição e educar novos músicos. A experiência fora um sucesso, mas, por falta de um profissional apto a escrever e captar projetos, a banda não conseguiu manter as aulas. Para o apaixonado pelo som do bombardino Alexandre Fernandez Moreira, a banda é mais do que um encontro com a música, é um espaço para descansar a cabeça. "É uma maneira de descontrair, uma terapia para quem trabalha, como no meu caso, na área financeira", afirma.
HISTÓRIA Alfredo Camarate, engenheiro português que participou do projeto de Aarão Reis para a criação de Belo Horizonte, era cronista de diversos jornais e era também músico. Em 1896, entre as ocupações de planejar a capital mineira e relatar seu ofício nos periódicos mineiros, Camarate fundou a Sociedade Musical Carlos Gomes. A história conta que o engenheiro, apaixonado por música, preferia contratar peões que tocavam algum instrumento para trabalhar nas obras da capital mineira. Da união de 15 músicos, sob a batuta de Camarate, nasceu a banda que tocava em festas e que tocou na inauguração da cidade.
115 anos depois, a Sociedade Musical Carlos Gomes segue pouco afinada com a capital que inaugurou, apesar da heroica dedicação de seus membros. Localizada hoje no bairro Calafate, próxima à Paróquia São José, a sede da banda é um casarão conhecido pelos moradores das redondezas por sua música característica.Camarate talvez não imaginasse que 115 anos se passariam sem que sua banda deixasse de servir ao povo para o qual foi criada, mas se surpreenderia com o descaso com o qual por ele é tratada. Provavelmente, não fosse graça aos músicos que hoje tanto se dedicam à Sociedade Musical Carlos Gomes, este importante pedaço da história de Belo Horizonte já teria se perdido.