sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Profecias de infância - Soneto: Precipito-me; tudo quero; nada sou; nada tenho

Saca-se num rompante a adaga do descrer.
Vê-se à sombra do amor, o ódio a se erguer.
Atira-se contra o patrimônio conquistado sem à mente ferver!
Mas arrepende-se, de repente, tal como é o florescer.

Mede de um pensamento a lembra que eu arfante
outrora quis por fim,
Mas mede da estrela, imenso, o arrependimento
Que estrema unção sede a mim.

Eu quis ser o brio do conquistador,
O cético cheio de amor,
Quis ser a estrela e lua que brilha de manhã.

Eu quis ser o louco lúcido,
O sol em pleno crepúsculo,
Mas sou nada, sou apenas afã!



Nota:


Este soneto me lembro ter sido o primeiro que trabalhei de forma mais dura. Tinha 13 anos quando apresentei-o em uma prova de literatura. Já nessa época ficava claro como a dualidade era marca forte do que eu sou. Nunca mais escrevi sonetos tão duros. Preferi falar de amor.

Profecias de infância - Meu temor

Não temo ficar sozinho, temo a solidão. Solidão é uma aversão, uma aberração, algo inaceitável em uma par de terra tão grande e cheio de diversidade como é o mundo. Estar sozinho pode ser reflexivo, alimentar, conscientizar, mas estar em solidão é a morte sonâmbula. Em solidão, ainda que se ande e coma, respire ou fale, não se está vivo, pois por dentro se é opaco. Sim a solidão é opaca, é um estado da mente do ser, que nebulisa todo e qualquer sentimento, expressão, querer que ele tenha. Solidão é bem mais que não ter ninguém para conviver. Solidão é afrouxar-se da vida, é não ter perspectiva , é paralisar, vegetar a existência, existir sem produzir, sem estar. À solidão eu temo. Temo porque sei que aos rancorosos, ranzinzas que em nada veem cor, ela persegue. Queira o celeste que eu não me torne assim.

Que eu confunda as cores, seja daltônico, mas que não perca o poder de colorir o mundo.
Que eu seja pobre, mas que não perca a riqueza maior que é a poesia, a graça.
Que eu falhe, erre, mas que pelo menos algo faça.
Que eu chore de amor, mas que pelo menos o procure.
Pois só com intensidade, pode-se evitar este mal horrendo, reservado a alguns, como castigo divino, por negarem o dom da vida.



Nota:


Escrevi este texto aos 11 anos. Tenho certeza sobre a idade porque no "Epítafio", os escritos vem acompanhados da data. É incrível como a sabedoria aos poucos me abandonou. Quem dera ter a consciência desses tempos. Se tivesse, lágrimas teriam sido evitadas, assim como erros que me separaram aos montes, de gente a quem devo muitas alegrias.
Bravo menino!

Profecias de criança

Quanto mais puro é a mente e o coração, mais cristalino, na mesma proporção, é aquilo que produzimos. No homem o estado da pureza é o da infância, a qual o mundo não foi suficientemente capaz ,por conta do pouco tempo, de inundar com sua sujeira e lodo. Dizem os Kadercistas que o espírito que desencarna ainda criança, por ter laços ainda frágeis com a terra e seus vícios, pode retornar, se assim for do desejo do criador, com maior rapidez e facilidade ao mundo terreno, sem que seja necessário um processo de limpeza e purificação mais extenso. Esta não é uma sala de perfil, mas me reservo o direito de dizer que creio nisso.

"O homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe", como já dizia Jean-Jacques Rousseau, com quem concordo, apesar da proposição não nos aliviar da responsabilidade de decidir se queremos ou não ser corrompidos e também corromper, já que a "sociedade", esta vilã misteriosa, não é nada mais que nós mesmos.

Todas estas linhas introdutórias são para divulgar algumas coisas que escrevi nesse tempo de infância, ao qual o mundo e a vida, como compreendo hoje, eram vizinhos de quem falava mal. Tento fazer deste espaço uma janela produtiva, na qual se possam divulgar palavras, com cuidado lustradas, polidas e modeladas, ao modo do que se possa chamar de literatura. Mas hoje abro exceção e espaço, para dois textos especiais, que não foram editados, recortados ou moldados, simplesmente saíram direto de minha infância e do "Epitáfio", meu caderno de segredos, para cá.

Encerro perguntando a você que supostamente me lê: Quais são as suas profecias de criança?

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Os meninos e a batalha do respeito

Lancem meninos, lancem. Lancem no mistério do ar e do tempo suas esperanças e seus sonhos, que meus olhos acompanharão e ajudarão a rezar pela conquista. Curvem suas mãos e seus dedos e façam girar com carinho seu brinquedo, sua bola laranja, que rateia em parábola até seu ninho desejado, ao passo que a cada chegada, a cada score, se completa a mensagem que pretendem, de que somos mais, podemos mais e seremos mais. Tarde de sete de setembro e meus olhos vigiaram atentos esses 12 meninos, trajados à batalha , pés sobre uma cidade transcendental, que não por obra do acaso, mas pelo destino, viu esta mágica tarde transpor a barreira da eternidade, e tornar-se lajedo perene da história. Liberdade e respeito, brados da independência que outrora neste mesmo dia se ouviu às margens de certo rio, nesta tarde em Istambul eram a vitória.
Os livros ensinam que não se faz uma grande vitória sem um grande adversário. E ele estava presente, não podendo haver outro mais adequado. Não eram meninos como os nossos. Eram homens, carregados de louros e glórias passadas. Sábios dos segredos do jogo. Mentes e corações ardidos e testados, cicatrizes que os fizeram sóbrios das emoções. Também nos olhos tinham o sangue do desejo pela conquista, que para eles tinha sabor diferente, o de demonstrar sua superioridade aos meninos, motivados por rivalidade histórica e eterna.
Palco pronto, a batalha seguiu e não decepcionou os olhos que, em loco ou à distância, acompanharam tensos os vôos da menina laranja. Em quadra, os braços se trançaram na busca pelo espaço. As pernas se esforçaram em seu balé de corridas e saltos. Apreensão, vontade, gana, foram os maestros de meninos e homens, que por épicos 40 minutos, pelejaram à procura da vitória. Esgotaram seus corpos, suas estratégias e ouvidos colados em seus generais, deram seus últimos passos na quadra, à espera que o mesmo destino que com minúcia armou batalha tão fabulosa, fosse justo ao determinar seu vencedor.
Feita a escolha, restou apenas o questionamento da sobriedade do próprio destino. Os meninos perderam e a seus rivais e herói, a tarde coroou com os louros da vitória. Um a um, cabisbaixos, eles deixaram a quadra onde honraram seu suor, molhando-a agora com sua lágrimas. O choro da decepção é sempre inevitável quando se está tão perto e tão longe do que se deseja. Mas não entristeçam meninos e ergam suas cabeças. Durmam, descansem e ao acordar, não desanimem e continuem a lançar o seu brinquedo, pois nesta tarde celestial, vocês conquistaram algo além da vitória, conquistaram a preciosidade do respeito. Guardem consigo nossos aplausos e a certeza de que aonde quer que estejam lançando no ar a sua bola, lá estarão os olhos do seu povo, a pajear o vôo e a rezar, acreditando no que nesta tarde vocês os ensinaram: Somos mais, podemos mais e seremos mais. Lancem meninos, lancem.