sexta-feira, 19 de julho de 2019

Bolsonaro e a estratégia da negação: o obscurantismo ameaça a ciência

Conhecer exige esforço. A porca solução do ignorante é negar. A negação cria uma apreciação própria da verdade, subjuga a ciência em função da fé, fonte moral que norteará a nova ética. Torna-se, nesse processo, um pensamento soturno, sombrio, e por isso conhecido como obscurantista; irritado em face da luz, que míngua em prol do individualismo sensível. Acredito, não acredito, a despeito do que se prove em contrário. A segurança da caverna é também o conforto do ego, resguardado do mundo crítico.
A negação, por ser tão óbvia estratégia inútil, foi por tradição de imediato repelida pelo pensamento sério. Assim aconteceu até que encontrasse na tez porosa social caminho para o centro do poder, reverberando entre humilhados e desprotegidos, nichos repelidos socialmente, alargados pela comunicação massiva e incompreendida de redes virtuais de interação, sem filtro e polissêmicas.
O que era esdrúxulo hoje governa, orienta países, tais como o Brasil. O presidente Bolsonaro é um exemplo claro – traduz melhor o “não pensamento” - de como se engendra a negação, o obscurantismo, na sua estrutura de comportamento, na sua ética.
Em menos de seis meses de governo, Bolsonaro já negou a existência do racismo, negou a crise econômica, negou o desmatamento da Amazônia, negou a seca no semi-árido brasileiro, e, mais recentemente, negou que exista fome no Brasil. A sua retórica comum é o “não acredito”. O objetivo é construir uma verdade própria que seja capaz de embasar uma nova visão da realidade, que a tome por uma suposta ideologia, desconstruída de ciência, e vivida pela fé.
Retomar o cetro da razão requer estratégia melhor que ridicularizar afirmações obscurantistas como as de Bolsonaro. É preciso retornar ao cerne da episteme racional, ao ponto de partida dos conceitos, anunciá-los do ponto zero, a fim de solidificá-los da raiz, passo a passo. Não é uma disputa de gritos. No grito, a ignorância vence.
Em tempo, descrevo:
Fome: substantivo feminino; urgência de alimento, subalimentação, falta do necessário; penúria, miséria, situação de míngua ou escassez de víveres. (Dicionário Aurélio).
A ONU, através da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), divide, para fins de pesquisa a fome em duas categorias:
Moderada – pessoas sem recursos para alimentação regular, saudável; aqueles que ficam ocasionalmente sem se alimentar.
Grave – pessoas que ficam dias inteiros sem comer, em vários períodos do ano.
Em 2018, a FAO divulgou relatório de segurança alimentar na América Latina e Caribe, no qual apontou que 5,2 milhões de pessoas no Brasil estavam em estado de subalimentação. Em suma, passavam fome.  Atualmente, 44 milhões de brasileiros vivem com menos de R$ 22, por dia.
Há fome no Brasil. E ela é urgente.