quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Sobre as eleições para o governo de Minas


Fernando Pimentel fez um governo ruim. A habilidade em crise faz parte de um bom governante. Fernando fez escolhas erradas.

A surpresa de Zema no segundo turno nos mostra a hipocrisia corrente daqueles que se esforçam para serem caracterizados como não políticos, gestores. O aceno de Romeu Zema ao candidato a presidência do PSL, o garantiu uma avalanche de votos de última hora, que ele próprio não esperava.
Seu partido, o "Novo", uma expressão míngua de programas neoliberais financiados por banqueiros e rentistas; expressou justamente o que critica com a veemência oca dos que se julgam senhores da moral.
Não só pela aliança suja, mas pela síntese de um projeto neoliberal entreguista, classicista e voltado a elite, considero Zema a pior opção para Minas. Seu programa de governo é desconexo, com adaptações comuns para uma aliança nacional, e perversamente elitista.

Com todas nossas diferenças, não tenho dúvida que Anastasia tem maior capacidade, e mesmo consciência, de realizar em Minas um governo eficiente.
A que se diga além, é um democrata.
Fato a se louvar em tempos de truculência de pensamento e autoritarismo marginal.

terça-feira, 24 de abril de 2018

Ogum, São Jorge, o Amado e o da Capadócia


Ontem, 23 de abril, ilês, terreiros, casas de culto, tendas espíritas e tantas outras flores do jardim de fé brasileiro prestaram homenagens a Ogum e a seu sincrético católico São Jorge, o guerreiro.

São Jorge, soldado romano mártir da igreja, é lembrado pela icônica imagem do homem altivo, de capa escudo e lança, sobre um cavalo, a lutar contra um dragão.

Ogum, divindade de origem Iorubá, filho primogênito do rei de Ifé, Odùduà, tem sua força reconhecida pelo domínio da forja, do ferro, da audácia, da revolução e da virtude, e se emparelha a São Jorge na coragem em manter a retidão de seus valores, mesmo em face de grande ameaça.

“Iansã, cadê Ogum?
Foi pro mar...”

Os versos da canção de Romildo e Toninho, “A deusa dos orixás”, sucesso na voz da grande Clara Nunes, remetem à relação de Ogum e Iansã, ferro e tempestade, e da estreita ligação desse orixá com o mar.

O mar está para Ogum tal como o dragão está para São Jorge, na medida em que suas águas que desabrocham no infinito do horizonte eram para o povo nagô o lugar dos corajosos, dos valentes e desbravadores, dos conquistadores e audaciosos, daqueles que não temem e não se dão por vencidos.
Vejo em Guma e Pedro Bala, personagens do mestre Jorge Amado, a descrição do Ogum que vai além do arquétipo da espada; heróis destacados sim por sua valentia, mas sedutores por sua paixão e pela violência controlada pela ternura, pragmáticos e racionais, ainda que românticos; paradoxo dos mais belos.

Pensar em Ogum é ser remetido ao primeiro estereótipo, o do guerreiro de espada na mão. De minha parte, prefiro senti-lo como Jorge Amado traduziu, e imaginá-lo sacolejando ao sabor do mar sobre uma jangada, peito aberto, o mar adiante, a cabeça erguida, de quem respeita, mas não teme o desafio, e irá retornar ao seu porto, com suas redes cheias.

A Ogum, patakori Ogun! Onirê! Ogunhê! Salve o senhor de minha cabeça, rei de Irê! Salve sua força!

A São Jorge, viva Jorge!

À Lívia, com amor, Guma!

Axé!