sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Brasil adulto

Nascemos vira-latas, filhos bastardos de uma colonização inoperante, criados ao sol e aprendendo a cabresto as lições da vida. Somos marginais, letrados na arte do jogo de cintura e da maracutaia, jeitinho que arredonda a vida e preenche as lacunas dos deficientes padrastos que nos foram dados.
Por crescer assim, sem limites, sem eira nem beira, menino homem que se criou só, o Brasil conserva em si uma anarquia de praia, uma alegria inconsequente, que só agora, pouco a pouco, vai sendo suprimida pelas responsabilidades da nova fase madura. Passamos pela adolescência colonial e pré-democrática e agora, aos 510 anos, somos recém postulantes a fase adulta, na qual já não cabem as volúpias de outrora. O tempo, a vida e as pedras, nos ensinaram os caminhos da harmonia e do equilíbrio. Criamos responsabilidades, construímos a nossa casa aos moldes democráticos e hoje podemos dizer que temos um futuro.
É certo que ainda não somos autosuficientes. Vez ou outra os antigos demônios nos perseguem, e tentam como cupins corroer as vigas que a duras penas erguemos. Mas desespero, já não se tem. Ainda que os tombos venham e deixem suas marcas, aprendemos cedo que cair é da capoeira, e se levantar é do vencedor. No fundo, acho mesmo é que aprendemos a ser otimistas e jamais perder as esperanças. O que não admira, pois se assim não fosse, teríamos sucumbido à ação cruel do destino. Olhar para o Brasil moderno é verificar um homem, que já não depende de heróis. Sugou deles a fibra e o caráter e pretende por si só caminhar rumo aos seus objetivos.

Por vezes descriminado, subjugado e deixado em segundo plano, hoje já se pode ouvir da boca brasileira suas próprias opiniões. Ainda lentas, murmuradas, em formação, mas próprias. Democracia para dentro e para fora, conceito que aos poucos se assimila. Ao passar as mãos sobre a derme histórica deste gigante varonil, é impossível não notá-la as cicatrizes. Elas existem e os monstros também. Olhá-las nos encoraja e não assusta. Encará-los talvez nos assuste, mas alerta. Já somos grandinhos, homenzinhos feitos. O tempo do medo ficou pra trás.

Um comentário:

  1. Chicão,
    impressionante sua capacidade de escrever!
    Muito bom texto!
    Tá no caminho certo , cara! Jornalismo é o curso ideal pra vc.

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