quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Os meninos e a batalha do respeito

Lancem meninos, lancem. Lancem no mistério do ar e do tempo suas esperanças e seus sonhos, que meus olhos acompanharão e ajudarão a rezar pela conquista. Curvem suas mãos e seus dedos e façam girar com carinho seu brinquedo, sua bola laranja, que rateia em parábola até seu ninho desejado, ao passo que a cada chegada, a cada score, se completa a mensagem que pretendem, de que somos mais, podemos mais e seremos mais. Tarde de sete de setembro e meus olhos vigiaram atentos esses 12 meninos, trajados à batalha , pés sobre uma cidade transcendental, que não por obra do acaso, mas pelo destino, viu esta mágica tarde transpor a barreira da eternidade, e tornar-se lajedo perene da história. Liberdade e respeito, brados da independência que outrora neste mesmo dia se ouviu às margens de certo rio, nesta tarde em Istambul eram a vitória.
Os livros ensinam que não se faz uma grande vitória sem um grande adversário. E ele estava presente, não podendo haver outro mais adequado. Não eram meninos como os nossos. Eram homens, carregados de louros e glórias passadas. Sábios dos segredos do jogo. Mentes e corações ardidos e testados, cicatrizes que os fizeram sóbrios das emoções. Também nos olhos tinham o sangue do desejo pela conquista, que para eles tinha sabor diferente, o de demonstrar sua superioridade aos meninos, motivados por rivalidade histórica e eterna.
Palco pronto, a batalha seguiu e não decepcionou os olhos que, em loco ou à distância, acompanharam tensos os vôos da menina laranja. Em quadra, os braços se trançaram na busca pelo espaço. As pernas se esforçaram em seu balé de corridas e saltos. Apreensão, vontade, gana, foram os maestros de meninos e homens, que por épicos 40 minutos, pelejaram à procura da vitória. Esgotaram seus corpos, suas estratégias e ouvidos colados em seus generais, deram seus últimos passos na quadra, à espera que o mesmo destino que com minúcia armou batalha tão fabulosa, fosse justo ao determinar seu vencedor.
Feita a escolha, restou apenas o questionamento da sobriedade do próprio destino. Os meninos perderam e a seus rivais e herói, a tarde coroou com os louros da vitória. Um a um, cabisbaixos, eles deixaram a quadra onde honraram seu suor, molhando-a agora com sua lágrimas. O choro da decepção é sempre inevitável quando se está tão perto e tão longe do que se deseja. Mas não entristeçam meninos e ergam suas cabeças. Durmam, descansem e ao acordar, não desanimem e continuem a lançar o seu brinquedo, pois nesta tarde celestial, vocês conquistaram algo além da vitória, conquistaram a preciosidade do respeito. Guardem consigo nossos aplausos e a certeza de que aonde quer que estejam lançando no ar a sua bola, lá estarão os olhos do seu povo, a pajear o vôo e a rezar, acreditando no que nesta tarde vocês os ensinaram: Somos mais, podemos mais e seremos mais. Lancem meninos, lancem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário